segunda-feira, outubro 24, 2016

Guerreiros da Tempestade - Bernard Cornwell

E a saga de Uhtred continua...
Nono livro da série Crônicas Saxônicas (isso mesmo, LIVRO 9) escrito por Bernard Cornwell, também autor de As Crônicas de Artur, A Busca do Graal, e As Aventuras de Sharpe. E como era de se esperar, luta, sangue, morte, saxões, dinamarqueses, noruegueses, irlandeses, todos misturados no contexto da criação da Inglaterra (não é bem assim, mas vamos chegar lá, um dia).

SPOILER ALERT
Os relatos a seguir fazem parte da história. Como esse livro relata, o narrador-personagem Uhtred se envolve na disputa para derrotar o norueguês Ragnall, que reuniu forte exército nas terras ao norte da Mércia, aliando-se a alguns temíveis irlandeses, para ser o manda-chuva de toda a ilha britânica. Como podemos supor, se é Uhtred que conta a história, é porque ele sobreviveu a essa disputa. É difícil ter algum susto com a trama, diferentemente de outras histórias, como as escritas por aquele autor que mata os personagens que mais gostamos e nos deixa órfãos, ¬¬. 
Ragnall quer dominar Nortúmbria, Mércia, Wessex e a Ânglia Oriental, até onde sabemos, e começa sua incursão por essas terras no norte. Uhtred frustra seus planos, e o mais interessante, esse pagão que adora salvar a pele dos cristãos, resolve agir de maneira a contrariar sua querida Æthelflaed. O final é que ele consegue atingir seus objetivos, sem causar mais problemas para si, e, sim, finalmente, parece se encaminhar para tomar Bebbanburg, algo que esperamos que aconteça no Livro 10, pois não foi dessa vez que leremos sobre a derrocada dos guardiões da terra natal do senhor da guerra.
O livro é dividido em 3 partes, Cornwell sempre antecipa o que está para acontecer, mas com aquela ótima descrição das batalhas, que acontecem com muita frequência. As viagens de barco estão presentes, e conhecemos um pouco sobre a história do seu fiel amigo Finan, o irlandês, que está junto de Uhtred desde que foram escravos, há muitos anos. Essa era uma parte bem escondida de nós, meros leitores. Também ficamos conhecendo o destino de sua amada filha, Stiorra, que havia fugido com Sigtryggr (para a Irlanda) e de seu filho padre, o Oswald, que retorna para Uhtred. Novos personagens aparecem, como o padre a ser bispo de Ceaster, Leofstan, carismático até para o senhor da guerra, e sua esposa, uma prostituta mulher que arranja altas confusões com os soldados dos exércitos de Uhtred e de Æthelflaed. 
Uma das mortes mais esperadas no livro é a de Brida, primeira amante de Uhtred. Sim, ela morre, afinal, Wyrd bið ful ãræd. Acho que os spoilers acabam por aqui, pois não é essa a intenção do blog. Deixei vários assuntos de fora, como o próprio nome do livro, não falei sobre guerreiros da tempestade, tempestade, etc... Tem ainda um outro personagem do passado de Uhtred que, deixa pra lá, leia logo de uma vez.
FIM DA ZONA DE SPOILERS
Mais uma vez Cornwell nos deixa esperando pelo fim da saga de Uhtred Uhtredson, ou Uhtred Ragnarson, a vingança para retomar a suas terras de direito, seu dever de protetor do norte. Parece que ele não tem fim, um guerreiro de um punhado de anos, quando a maioria de seus contemporâneos já faleceu, que está lá, firme e não tão forte em busca de Bebbanburg. Pode parecer cansativo para alguém que ainda não começou a ler, mas para quem já a iniciou, sabe que as páginas passam rapidamente pelos olhos. A escrita se torna fácil de ser lida, embora os nomes.
O contexto histórico nesse livro foi bem sucinto. Diferentemente de livros anteriores, este não busca uma história próxima da realidade. Acredito que é assim escrita para que finalmente nosso herói pagão tenha um final digno de um guerreiro, mas sem se importar com a veracidade dos fatos históricos, afinal, se os leitores quiserem podem procurar em livros de história e fazer toda aquela análise e confrontação para saber como a Inglaterra foi formada. Como está escrito no final deste livro, este é o pano de fundo para os romances de Uhtred. O interessante é sabermos que a Inglaterra foi formada por diversos povos, e eles estão presentes nestes romances e em outros, como as Crônicas de Artur, que se passam muitos anos antes de Crônicas Saxônicas.
O meu sentimento ao ler estes livros é o de superar meus problemas, ser mais forte do que o destino, embora este seja inexorável. Cada vez que leio tenho mais vontade ainda de seguir em frente, construir uma história. Passamos brevemente por este mundo de perigos, e não podemos nos dar ao luxo de sermos inertes, inexistentes. Como seres inacabados, estamos em constante evolução, e é isso que vejo em Uhtred, um herói que aprende a cada situação. 
Boa leitura a todos.
Guerreiros da Tempestade - Bernard Cornwell
Thumbnail de youtuber falido, mas é o que temos para o momento.


Suave é a noite - F. Scott Fitzgerald

Essa foi uma obra que demorei certo tempo para terminar sua leitura. Por quê? Porque não estava muito no clima de um romance dos anos 20. Ele é dividido em III partes, chamadas Livro 1, 2 e 3, sendo que a história não está na ordem natural das coisas, isto é, começamos conhecendo os personagens principais no Livro 1, porém no Livro 2 o passado dos personagens é relatado. Foi só aí que comecei a achar interessante o livro. Nesse ínterim, acabei parando de lê-lo para ingressar no mundo de Kurgala, como já descrito nos posts anteriores.
Já havia lido um livro de Fitzgerald anos atrás, do qual gostei muito, o que não faz com que não tenha gostado deste, apenas demorei demais para achá-lo interessante. O universo das pessoas muito ricas antes da quebra da bolsa de 1929 ainda me parece muito fora dos padrões aos quais eu consiga imaginar como natural, mas acho que o mesmo se aplica se eu lesse sobre o alto padrão milionário da época atual. Como não o faço, fico na hipótese de que sim, sem comprovação da minha parte.
A história começa na Riviera Francesa, com o casal Diver fazendo amigos com outros ricos. Não há preocupação de explicar por que são ricos. Nisso, eles conhecem uma jovem atriz de Hollywood, Rosemary, que ao longo da trama, se apaixona por Dick Diver, marido de Nicole. A partir disso os vícios de caráter destes personagens começam a aparecer, chegando a uma degradação fortíssima em Dick, um médico psiquiatra que aceitara casar-se com sua única paciente até o momento, e claro, se eu ficar escrevendo sobre isso acabarei contando a história toda, e não é por isso que escrevo aqui (é para lembrar-me sobre o que já li).
O aspecto mais forte que considero é a recuperação por parte de Nicole e a degradação de Dick, e como cada um reage a isso. Como Dick suportou tanto tempo agindo como todos desejavam que ele agisse, um cavalheiro quase que perfeito, sendo que em seu interior nada era tão estável como imaginassem os amigos e a sociedade? É uma pressão um pouco egoísta, também da minha parte como leitor, mas é um homem, caucasiano, bem sucedido, que atingiu status desejado por muitos americanos (A Casa da Felicidade, de Edith Wharton, mostra o que é esse desejo americano de se viver europeu), casado com uma mulher linda, filhos bem educados, e tudo mais que a sociedade espera e cobra de uma pessoa, mas que não se encontrou como pessoa, não sabe seu caminho. Isso acontece com a natureza humana, não temos a resposta para: o que fazemos no mundo, qual meu propósito na vida? escrita em nosso DNA. Alguns sortudos a descobrem, outros fingem encontrar, e outros não se importam com isso, mas sempre existirão aqueles que passarão suas vidas a dedicar tempo e mais tempo a fim de descobrir isso, sem sucesso até o final.
Na edição que li é possível ler Nota sobre o texto, que explica o contexto da publicação da obra, por Arnold Goldman, além de Notas explanatórias.
Boa leitura a todos.

domingo, outubro 09, 2016

O Espadachim de Carvão e as Pontes de Puzur

O box que comprei incluía os dois primeiros volumes de O Espadachim de Carvão. Agora é vez de escrever sobre Puzur. Uma das coisas que mais gostei no primeiro livro foram as citações sobre Tamtul e Magano, heróis de uma série de livros que Adapak lera muito, mas muito mesmo. As citações abrem os capítulos, não todos, mas a maioria. No segundo livro esse recurso também está presente, e agora a obra passa a dar mais referências sobre esses personagens-heróis que o protagonista tanto admira.
Sobre a história: Puzur (que está no título da obra) é o alvo do escritor, que volta ao passado para narrar a história deste personagem que permeia o imaginário. Adapak também busca informações sobre ele em uma biblioteca. Então temos a narrativa sobre Adapak buscando em relatos de soldados (não são soldados, mas deixarei assim) conhecer quem foi realmente Puzur e temos o narrador-escritor relatando a história desse anti-herói. Fato rápido: Percebemos como a história é modificada por quem a conta, seja de forma falada, escrita ou musicada. A personagem que vivencia as aventuras de Puzur é uma barda (se podemos assim dizer), e sabemos que essa classe adora contar histórias e transformá-las em algo muito mais interessante do que são.
Vale a pena ler? Sim, como já escrevi no primeiro texto. Buscava uma fantasia e achei uma, gostei do universo que gira em torno de Adapak, a forma como é escrita, as ilustrações, os detalhes e tudo mais.