domingo, julho 29, 2018

Maturidade e velhice (ou O amor nos tempos do cólera)

Finalmente chega um momento da vida em que se decide quais caminhos serão seguidos. Isso pode acontecer muito breve, aos 17 anos, com a escolha e aprovação no curso universitário, ou aos 30 anos, quando se tem, no mínimo, seis ofícios para se trabalhar. Esse último é o meu caso. E isso dificulta muito. Essa liberdade em escolher o caminho me deu tantas portas a serem abertas que nunca me dei por conta de fechá-las. Mas, como pude aprender, da vida nada levamos. Aos 30 não tenho mais paciência para ir a lugares que não quero, passar tempo em festas em que não me sinto bem para ter a oportunidade de conhecer alguém e me relacionar, por mais breve que seja esse relacionamento, com essa pessoa. Aos 30 não tenho a vontade que tinha antes disso. Ao ler O amor nos tempos do cólera percebi que nem todas as pessoas precisam se casar e ter filhos com a pessoa amada enquanto são jovens. Gabriel Garcia Marquez foi tão sutil em sua história que só pude entender melhor o que se passou depois de algumas semanas após ler a obra. Sempre na tentativa de viver as emoções ao máximo, deixei de sentir essas emoções. Perdi a beleza de se apaixonar depois de sofrer por alguém. Perdi os momentos de ansiedade por não acreditar que alguém seria feliz ao meu lado. Na minha escolha de não viver, fiz uma escolha egoísta, não tão diferente da de Florentino Ariza em esperar que Fermina Daza estivesse a fim de partilhar do convívio com ele. Foram longos 50 anos para que esses dois personagens formassem o casal que Florentino desejava. Eu escolhi não formar casal algum. Egoísta que sou, pode ser mesmo, porém não me verei comparecendo a ocasiões em que não me sinto bem. Se são 30 ou 80 anos, não importa, não serei eu a ser um Juvenal Urbino por conveniência. Não serei eu a aguentar a vida morna.

quinta-feira, abril 12, 2018

Carta aberta ao senhor Carl Sagan ou minha revisão de O Mundo Assombrado pelos Demônios

Estimado senhor Sagan,

Tive conhecimento de sua existência quando da sua ausência. Explico. Em 1996, aos 8 anos de idade, minha mãe realizou a assinatura da revista brasileira Superinteressante, e no editorial do quarto exemplar em que recebi em casa soube da sua morte. Até aquele momento não sabia quem você era, muito menos o que tinha feito, mas ao ler aquelas palavras soube que era um importante divulgador científico. Já se passaram muitos anos. Minha curiosidade sobre a astronomia continua, embora tenha tido altos e baixos nesse tempo. E entendi melhor, aos 30 anos, por que não me interessei em seguir uma carreira acadêmica voltada à física, quando li seu livro O Mundo Assombrado pelos Demônios. Não encontrei nenhuma receita Winchester de como se livrar destes demônios (foi uma piada, às vezes acho que sou engraçado), mas percebi que como seres pensantes temos que nos desenvolver melhor, livrarmos de amarras que nos prendem a superstições. Estas correntes fazem parte do mundo ocidental em que vivemos. Não vou entrar no caso da religião. Keppler que o diga, lidou bem com isso, mas claramente o cenário de 2018 no Brasil é bem assustador. A ignorância e intolerância se propagam com rapidez através de algo chamado internet, que ainda engatinhava quando o senhor escrevia o referido livro. Fizemos boas coisas com a internet, mas também coisas ruins. Estamos totalmente conectados em aldeias globais, podemos nos comunicar rapidamente com os outros, e aqueles mesmos desejosos por enganar os outros continuam a existir também nessa rede. São inúmeros os casos de notícias falsas, propagadores de invencionices que causam espanto até mesmo naqueles senhores que criaram os círculos nas plantações, que mesmo admitindo a autoria do ato, seguem sendo copiados mundo afora. O seu livro trata bem do caso americano de ensino. Não é muito diferente do país em que vivo. Saiba que aqui é pior, muito pior. Professores não recebem o seu salário inteiro porque o governo alega não ter dinheiro, enquanto gasta milhões em outras coisas, só para citar um exemplo. Mas nem tudo é tão ruim. Há cidadãos neste mundo REDONDO (sim, a crença do planeta plano persiste e se espalha com força no globo, GLOBO) que se esforçam para realizar a divulgação científica, seja em salas de aulas, canais na plataforma de vídeos online, palestras em locais públicos e privados, além de outros lugares. O Dragão Invisível segue à solta, mas novos São Jorge bem visíveis surgiram com lanças poderosas a espetar o peito metálico da ignorância. O mundo segue a ser assombrado pelos demônios, agora com esteroides, senhor Sagan. Não sabemos se um dia eles deixarão de existir, porém é isso que faz do trabalho da ciência desafiador, superar os limites do conhecimento para depois questionar esses limites e seguir nessa constante busca pelo saber.

Crowley assombrando o mundo (mais uma pida sem graça minha)