domingo, julho 29, 2018

Maturidade e velhice (ou O amor nos tempos do cólera)

Finalmente chega um momento da vida em que se decide quais caminhos serão seguidos. Isso pode acontecer muito breve, aos 17 anos, com a escolha e aprovação no curso universitário, ou aos 30 anos, quando se tem, no mínimo, seis ofícios para se trabalhar. Esse último é o meu caso. E isso dificulta muito. Essa liberdade em escolher o caminho me deu tantas portas a serem abertas que nunca me dei por conta de fechá-las. Mas, como pude aprender, da vida nada levamos. Aos 30 não tenho mais paciência para ir a lugares que não quero, passar tempo em festas em que não me sinto bem para ter a oportunidade de conhecer alguém e me relacionar, por mais breve que seja esse relacionamento, com essa pessoa. Aos 30 não tenho a vontade que tinha antes disso. Ao ler O amor nos tempos do cólera percebi que nem todas as pessoas precisam se casar e ter filhos com a pessoa amada enquanto são jovens. Gabriel Garcia Marquez foi tão sutil em sua história que só pude entender melhor o que se passou depois de algumas semanas após ler a obra. Sempre na tentativa de viver as emoções ao máximo, deixei de sentir essas emoções. Perdi a beleza de se apaixonar depois de sofrer por alguém. Perdi os momentos de ansiedade por não acreditar que alguém seria feliz ao meu lado. Na minha escolha de não viver, fiz uma escolha egoísta, não tão diferente da de Florentino Ariza em esperar que Fermina Daza estivesse a fim de partilhar do convívio com ele. Foram longos 50 anos para que esses dois personagens formassem o casal que Florentino desejava. Eu escolhi não formar casal algum. Egoísta que sou, pode ser mesmo, porém não me verei comparecendo a ocasiões em que não me sinto bem. Se são 30 ou 80 anos, não importa, não serei eu a ser um Juvenal Urbino por conveniência. Não serei eu a aguentar a vida morna.