terça-feira, agosto 02, 2016

O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë


Eu precisava saber se gostaria de ler O Morro dos Ventos Uivantes. Este romance ganhou destaque nos últimos tempos, embora não tenha ouvido falar dele na faculdade, ou não lembro de ter ouvido (provável situação, não lembro muito da faculdade, faz tempo já, parada antiga). O romance único da escritora Emily Brontë é bem clássico para o estilo, se é que pode-se assim dizer. Não sou um especialista em romances. Algo que me chamou a atenção foi a dureza de alguns personagens, uma conversa rústica, franca, agressiva, muitas vezes.
O universo da história se passa nas casas entre o morro e a granja, embora o intruso Heathcliff tenha vindo de outro lugar, pois foi encontrado pelo pai de Catherine e levado para a casa do morro, pouco se é falado sobre seu passado. E acho que é isso que faz com que o universo da história pacata que os personagens viviam, até então, mude. A história é contada para Lockwood, um senhor que alugou a casa na granja e que passou um tempinho quase que preso, pois nevava muito, na casa do morro. Ao conseguir sair da casa, o senhor Lockwood estava intrigado, e também doente. Chegando à granja, Ellen Dean a.k.a. Nelly toma para si a responsabilidade de:
  • Cuidar do senhorio, pois ela é a serviçal da granja. 
  • Relatar a história (interminável) de intrigas que ocorreram entre os donos do Morro dos Ventos Uivantes e da Granja da Cruz dos Tordos até (quase) o momento presente. 
Sobre a escrita achei bem característica da época. Alguns nomes dos personagens se repetem, fazendo com que fique um pouco confuso, fora o fato de também serem chamados por seus sobrenomes, que por vez, para as mulheres, mudavam quando casavam. Tudo fica entre as famílias dos dois locais, sempre afetados pelo elemento exterior, chamado Heathcliff. Os elementos fantasmagóricos estão levemente presentes, sendo que acho esse um ponto que pode acrescentar para a história. A narradora procura encontrar traços dos antepassados em seus descendentes, muito embora alguns tenham morrido sem nem ter conhecido sua prole. O final da história é bem mel, por assim dizer. Parece uma novela de alguns anos atrás, quando os protagonistas queridinhos se davam bem e o malvado da história se lascava. Embora ele só tenha desistido de viver, com algum elemento loucura/fantasma, facilitando para os jovens primos que se detestavam até pouco tempo ficarem juntos e felizes para sempre, pois além disso a história não avança.
Se gostei de ler? Não, não gostei. Eu prefiro acontecimentos rápidos, respostas imediatas. Essas ações dos romances de 1800 ficam muito amarradas. O mundo era bem diferente, mas assim eu sanei minhas indagações. O livro é bem escrito, e audacioso até para a época.
A minha edição do livros é da coleção L&PM Pocket

Comprei o exemplar na Vitrola

O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë



Azul-corvo - Adriana Lisboa

Este é um livro do qual não sabia da existência. Recebi emprestado do meu amigo Guilherme. A obra tem uma narradora que conta as histórias de sua mãe, Suzana, que nasceu no Brasil, mudou-se para os Estados Unidos (viajou para outros lugares nesse período) e retornou ao Brasil, as histórias de seu pai (que é quem a registrou, mas que não é bem seu pai, é mais um ex-guerrilheiro) que viveu no Brasil, foi para Pequim (Beijin né?), retornou ao Brasil, saiu do Brasil, viveu em outros lugares do mundo (Londres) e passou a viver nos Estados Unidos, mas não sem antes ter mudado de estados americanos, e sobre a sua história, de ter nascido nos Estados Unidos, mudado para o Brasil e voltado para o país da liberdade. Existem outras histórias dentro dessa história sobre outras pessoas que se envolvem com as pessoas-chave da principal história. Algo que gostei muito foi maneira como a história se desenvolveu:
  • A narradora começa de um ponto-presente no tempo para relatar sua história quando ela tinha 12, 13 e 14 anos. 
  • Ela também relata a história da sua mãe quando tinha 9 anos. 
  • A história da sua mãe e dela mesma de volta ao Brasil, nos anos 90, até o ponto que retorna aos Estados Unidos. 
  • Relata a história de Fernando (seu pai-não-pai) quando usava o codinome Chico no final dos anos 60, início dos anos 70 na ditadura militar no Brasil. 
Então é uma obra com muitas voltas ao tempo, mas que não segue uma estrutura em que o tempo segue linearmente. Dentro dos capítulos esses tempos são retomados, como as histórias de Chico como aprendiz de guerrilheiro na China, guerrilheiro no Brasil, entre outras.
A protagonista, ao enfrentar uma grande perda, decide voltar aos US and A em busca do pai biológico que não sabia sequer da existência até pouco antes da perda referida no começo da frase. Basicamente este é o mote do livro. Achei bem criativo e gostei da maneira como foi escrito. Leitura muito fluida, levei 3 noites para ler as 219 páginas. As estruturas dos parágrafos são bem interessantes, com muitas descrições e até inserções da Wikipedia e Yahoo Respostas. Parece muitas vezes um diário (ou um blog), como uma pessoa entre os seus 13 anos escreveria, mas já passados uns 8 anos desses seus 13 anos, então ela já sabe bem como relatar a história ocorrida e não como alguém que relata o que ocorreu no mesmo dia dos fatos acontecidos.
Outros aspectos culturais também são ótimas referências, como os do tempo da ditadura no Brasil, anos 2000 nos Estados Unidos (especificamente no estado do Colorado, onde se passa a maior parte do tempo) e as opiniões do Yahoo Respostas feitas por brasileiros. Para quem busca qualidade no atual quadro literário, esta é uma boa pedida.
Você encontra este livro na livraria Saraiva
Azul-corvo - Adriana Lisboa