segunda-feira, julho 20, 2015

Livros do primeiro semestre - 2015

Começou ainda em setembro, uma amiga me trouxe três obras de dois escritores gaúchos muito conhecidos, mas que eu, grande desconhecedor da literatura conterrânea, ainda não havia lido. Por que ela me trouxe? Bem, porque foi minha encomenda pelo site do qual ela é a gerente do e-commerce, a Vitrola, e como sou um cliente muito legal e bacana, recebo em casa em menos de 24 horas minhas compras. Os livros foram meu presente de despedida dado a mim mesmo por ter saído do jornal onde trabalhava. Não deve existir presente melhor. Até deve, mas para outras pessoas. Só realizei a leitura de duas das três obras por alguns motivos:
1º - Estava a terminar a leitura das Crônicas Saxônicas.
2º - Emprestei um deles, O Centauro no Jardim, para a minha mãe, que ainda não o leu.
- Incidente em Antares é um passeio pela história recente humana, que é retratada em poucas páginas pelo master Erico Verissimo. Bom, retratar aspectos singulares que estão presentes eras após eras em diferentes culturas nos indivíduos é tarefa árdua. Agora, fazer isto, de maneira a tornar a leitura prazerosa, bem, isso é comparável aos 12 trabalhos de Hércules ( e talvez eu esteja escrevendo isto por estar ouvindo as 7 horas de soundtrack da Xena, no youtube). Os aspectos que me referi são sobre a psicologia humana. A trama entre as famílias rivais, ambientado no cenário gaúcho arcaico e transportado até a enfadonha época da ditadura sucumbe numa análise minuciosa sobre como reagimos perante à morte. Nisso, o que mais percebo é a fraqueza humana, podemos saber que temos todos o mesmo fim, mas agimos como babacas até lá.
- O Evangelho segundo Jesus Cristo é uma obra do Saramago, português, que eu comecei a ler lá pelos meus inesquecíveis (porém não mais lembráveis) 17 anos, quando cursava faculdade. Digo que iniciei a leitura por várias vezes. O recurso estilístico próprio fazia-me desistir. E admito, minha incapacidade de aceitar que a realidade não existe era mais forte. Não conseguia ler a obra pelo fato de achar que a história de Cristo humano era profana. E esse era o ponto que agora eu pude virar. A mim tampouco sei sobre qualquer coisa. Saberei mais se possível for minha capacidade de compreensão da visão dos outros. Essa é a uma forma de aprender que consigo levar como aprendizado. Cada ser é único. Sobre a obra, é contestadora, coloca o humano como o é, nada, dirigindo-se ao fim. O que ele fará até lá é que será importante.
- O exército de um homem só, livro curto de Moacyr Scliar, se passa em Porto Alegre, ao mesmo tempo em que se passa na cabeça da principal personagem, que está em vários lugares ao mesmo tempo. Ótima obra, fácil leitura e boa compreensão.
O que as três obras referidas têm em comum? Levo em consideração a morte. Os mortos saindo insepultos do cemitério em Antares provocam tantas reações na população que nada mais são do que as reações que temos quando não sabemos como agir. Procuramos explicação, procuramos o divino (ou ser superior, algo sobrenatural), ficamos perplexos, indignados, depois encaramos a verdade, mas não podemos mais alterá-la. Em o Evangelho temos o confronto de um homem que descobre que tudo o que deve fazer é morrer, e é exatamente isto que ocorrerá a todos nós. Este homem confronta o seu pai, que pode ser, para nós, como o nosso destino. Afastamos pessoas de nossas vidas, nos unimos a outras, decepcionamos aqueles que mais nos amam e muitas vezes nem sabemos porquê fizemos isso, apenas fazemos enquanto rumamos ao fim. O exército de um homem só é poético, mas nosso relato é sobre o falecido Capitão Birobidjan, que em toda a sua genialidade nunca foi compreendido por sentir saudades de algo que nunca viveu.
E quem consegue plenamente compreender a vida?

Foram pouquíssimos livros neste intenso semestre de descoberta e trabalho. Descoberta de que levarei até a tumba uma doença. Trabalho que ficou cada dia mais pesado, descompensado pela minha ignorância em relação à doença. Como realmente compreender a vida se tudo age para que saiamos o mais depressa dela? 

Saiba mais sobre as obras:




Você pode encontrá-las na Vitrola 

PS: Por que eu falei sobre três obras, mas citei duas se escritores gaúchos e nem havia falado sobre o escritor português? Cadê a coerência?
- Blog é meu, erro onde achar necessário. Escolhi, porque tive a oportunidade de determinar qual seria o meu presente de amigo secreto na empresa onde trabalho, o famigerado Evangelho Segundo Jesus Cristo, do referido português José Saramago, e achei que deveria lê-lo antes do Centauro no Jardim, do Scliar.

2 comentários:

  1. A morte sempre faz pensar na vida. E vice-versa. As duas andam de mãos dadas: só se morre se se vive, e não se pode viver sem morrer. Podemos encarar ambas como fardos ou como bençãos, a escolha é nossa. Sempre haverão momentos de inconsistência onde não saberemos ao certo qual a nossa posição sobre isso. Mesmo assim, ainda podemos tirar o melhor de cada uma: a certeza da morte nos traz a urgência de fazer o que nos faz felizes o quanto antes; a certeza da finitude da vida pode, se formos sábios, fazer com que despreocupemo-nos um pouco com as consequências dos nossos atos, pois o nosso fim será sempre o mesmo. Tudo isso pode parecer mórbido, mas consigo enxergar através de uma lente otimista: nós podemos escolher o que a memória que fica quando nos formos falará sobre nós, que é o mesmo que escrever uma história. A nossa história. Através de atos, não de palavras. Esse é o impulso que me levanta quando desejo mais ficar parado. O contrário disso tudo me parece mais amedrontador. Se a vida não se findasse com o tempo, será que minha vontade de me tornar o que desejo seria forte o suficiente para me carregar? A perspectiva de ter todo o tempo necessário à minha disposição para me mexer somente quando quiser me parece ser mais forte... Ao mesmo tempo, talvez não seria tão ruim viver como elfos, sempre a ouvir canções e poemas ao invés de nos preocuparmos com o destino do universo, que muito provavelmente pode já estar autodeterminado. Mas nunca iremos saber. Fazer o nosso melhor com o tempo que nós é dado, seja por uma força superior divina, ou pela nossa própria condição mortal de seres que se decompõem aos poucos pelas leis de uma natureza que é apenas o que é, ainda me parece o mais adequado. E sábio.

    ResponderExcluir